domingo, 24 de março de 2013

Rita Elisa

O que é meu... é seu!


O telefone tocou estridente, trilililin,trilililin,trilililin, eu sempre deixo tocar pelo menos três vezes, me dá a certeza de sabem para onde estão ligando. A mulher me informa de que minha filha foi sorteada e ganhou uma bicicleta, com marchas e tudo que tinha direito.
É claro que Sabrina ficou feliz, ficou horas e horas no telefone contando a novidade aos amigos. Só depois de atualizar toda caderneta de endereços com a novidade do ano é que ela se lembrou de perguntar:
- Mãe, quando iremos buscar a magrela?
- Não fique ansiosa, minha filha, eu e seu pai marcamos de ir à loja, amanhã à tarde, buscar o prêmio.
Ela fez um hã...hã... entre dentes e foi para o quarto do irmão.
 - Ei Mano, você nem imagina o que me aconteceu...
 - Fala logo... o que foi?
- Fui sorteada com uma bicicleta na lanchonete do shopping – exclamou ela, quase sem respirar – pronto falei...
- Legal! aquela lanchonete que fomos juntos?
- Isso mesmo. Estivemos lá só uma vez, precisamos voltar mais vezes, nela tenho sorte...
- Ô maninha, você vai me deixar andar na sua “magrela” nova, não vai?
- É claro que sim. Lembra de nosso lema? Continua o mesmo: “o que é meu é seu”.  Será que aguento até amanhã para vê-la?
- Güenta as pontas... vai dormir mais cedo que, amanhã chega rápido!
  No outro dia fomos buscá-la.  Estacionei a picape em frente à porta de serviço da lanchonete – na parte dos fundos. A gerente da loja veio com a bicicleta, vermelha, 18 marchas e os acessórios necessários para pedalar. Ao entregá-la comentou:
 - Vocês tem outro filho além da que saiu premiada, não tem?
- Temos sim, por quê? – perguntei intrigada.
- Sei até o nome dele... é Max?
- É esse mesmo. Como sabe? Você o conhece?
 - Um momento só. Vou pegar uma coisa e já volto. É... só para provar... preciso provar... - informava enquanto subia a escada – não saiam daí.
  O pai – por via das dúvidas – pegou a bicicleta e a levou para o carro. Sabe-se lá o que essa mulher ia provar... Ao voltar, ele suspirou resignado, encostando-se no batente da porta.
A mulher não aparecia e ficamos desconfiados.
Perguntei receosa:
 - O que será que aconteceu?!  Acho melhor irmos embora...
 - Sei não...  sei não...
  Eis que apareceu a gerente, no topo da escada, acenando com um papel. Enquanto descia, ia falando:
- No dia  marcado para o sorteio, no horário certo, colocamos a enorme urna de vidro, com mais de dois mil cupons, no centro da lanchonete. Eu abri a urna e, uma menina com os olhos vendados, retirou um cupom e me entregou. Li o nome do ganhador em voz alta - a pessoa não estava ali. Mas tinha o telefone no bilhete premiado.  Ia avisar o ganhador.  Fui em casa para tomar um banho e fazer o telefonema.
Ela, parou um instante, alisou o papel na mão e continuou:
- Nem bem cheguei em casa o telefone tocou... para minha surpresa me informaram que iam fazer novo sorteio. Se querem saber eu contestei. Contestei sim, mesmo, pois o sorteio já havia sido. Não aceitaram meus argumentos, nem mesmo o de, pelo menos, esperarem para que o cupom sorteado fosse recolocado na urna – a fim de, pelo menos, concorrer novamente - ela suspirou - falaram que era impossível, pois alguns palhaços iam fazer um novo sorteio e já estavam lá, tinha de ser aquela hora  – estratégia de marketing – vocês entendem...
 Mostrando o cupom para mim, comentou:
 - Aqui está o cupom sorteado pelos palhaços – é o da sua filha.
 Conferi... certamente a Sabrina foi a ganhadora. A gerente tirou um papel do bolso e mostrando-o, excla-mou:
- E, aqui está o primeiro cupom premiado. Vocês podem dividir o prêmio entre os dois?
Peguei o cupom, li o nome do ganhador. Sorri e confirmei. Meu marido gargalhou, o primeiro sorteado foi nosso filho Max. Satisfeitos, entregamos a bicicleta para os dois ganhadores.
 E, hoje, quando contamos esta história para os amigos e eles não acreditam, mostramos com orgulho os dois cupons sorteados.



Rita Elisa Sêda  

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