quarta-feira, 13 de março de 2013

Rita Elisa Seda










Parábolas para Yasmin

Certo dia eu subi uma montanha para ver se enxergava o mar, pois de onde eu morava pressentia que o mar estava por perto, mas nunca o via. Falava para todos que havia um lugar, ali perto que tinha mar, porém as pessoas não acreditavam. Convidei-os para subir a montanha, numa tentativa de, pelo menos, procurar um oceano, mesmo que, pequeno ele fosse.
As pessoas não se importaram. Apenas recebi muitos nãos:  porque o caminho era estreito; porque a montanha era muito alta;  porque era cansativo; porque ia demorar muito; porque o lugar certo era ali, no campo, trabalhando exaustivamente todos os dias para ter o que comer, para a sobrevivência. As des-culpas eram muitas.
Até que certo dia eu resolvi subir a montanha sozinha. Saí antes de o sol nascer, fui devagar, levei apenas uma laranja, uma garrafa d’água, a máquina fotográfica e meu cajado.
No compasso de oração, a cada centímetro pisado, eu sentia paz. A bruma da manhã foi se dissipando com os primeiros raios solares, a cortina do tempo foi dando passagem para novas paisagens, fui subindo.
Realmente o caminho era estreito, algumas pedras me fizeram tropeçar e até mesmo cair. Levantei-me diversas vezes, sempre com o olhar para frente, jamais olhei para trás.
Passei por um bosque de quaresmeiras, araucárias e sibipirunas; o riacho me convidou para um banho, apenas saciei minha sede, o tempo urgia para o topo da montanha.
Caminhei a manhã toda, me deliciei com a laranja, meu almoço predileto, continuei a peregrinação.
Cheguei ao alto da montanha no fim da tarde. Lugar magnífico. Lá de cima vislumbrei o vale, mas... não vi o mar... fiquei triste! Tamanho esforço para chegar até lá e não encontrei o que eu queria.
Sentei-me no chão, embaixo de uma grande arvore com galhos enormes, quase sem folhas. No tronco dessa árvore havia um buraco, acho que feito por algum raio, ou mesmo, algum grande animal, ou pequenas...  formigas. O buraco deixava à mostra metade do cerne, de cor vermelho, parecia carne viva. Peguei um pedaço de madeira e fui limpando aquele buraco, depois o tapei com muitos gravetos que estavam em decomposição no solo.
Acabando esse feitio, sentei-me novamente no mesmo lugar de antes. Foi nesse instante que senti um cheiro diferente – era cheiro de maresia, cheiro de mar. Tive a certeza de que o mar estava por perto, eu não o via, mas o pressentia, pelo aroma.
Naquele momento uma enorme felicidade percorreu minha mente e consegui entender alguns mistérios da vida. Alguns ensinamentos vieram em forma de parábolas. Tudo que eu via ao redor me transmitia princípios básicos de sabedoria. Não tive dúvidas, fotografei.
Desci a montanha com outra visão a respeito da vida, sei que a cada um o Paraíso pertence numa questão pessoal. Seria muito bom ficar o resto de minha vida naquele lugar. Se eu tive de voltar foi para compartilhar esses ensinamentos com os que ficaram nos campos, afinal quando acende uma luz dentro de nós não devemos colocá-la embaixo da mesa e, sim, levá-la para iluminar outros locais.
Sim... voltei!... sei que um dia vou além dessa montanha. Não tenho pressa. Tem certas coisas que não precisamos ver para saber que existem. O mais importante, agora, é deixar aqui, para você Yasmin e, também, para seus amigos, as lições que aprendi no alto da montanha.
Por causa disso, durante o ano de 2012, coloquei esses ensinamentos em forma de parábolas, no Visão Vale.


Rita Elisa Seda
Sítio Nhá Chica

Um comentário:

  1. Puxa, que experiência linda, Rita Elisa! Incrível!!! Sua sensibilidade, nos remete a esta montanha. POSSO ATÉ, COMO VOCÊ, SENTIR O CHEIRO DO MAR...A MARESIA... Ao ler estas lições que você, minha amiga, vivenciou na montanha; acredito ser o "SÍTIO NHÁ CHICA", um lugar, mesmo MÁGICO - ABENÇOADO - !!!Suas experiências, enriquece, quem as lê. Leva-nos a uma introspecção, uma reflexão...um ensinamento para a vida, para o dia a dia. Momentos inesquecíveis, eternos!!! Parabéns!!!OBRIGADA POR PARTILHAR CONOSCO, SEUS LEITORES, ESSES MOMENTOS ÚNICOS!!!

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