domingo, 16 de setembro de 2012

Ivani Izidoro

Lembranças

  Outro dia, viajei em uma caixa, acompanhada de passageiras silenciosas e imensamente comunicativas cha-madas fotografias!
  Silenciosas pelo mudo papel, comunicativas pelo discurso das lembranças; as fotografias são mágicas congeladoras do tempo e de felicidade.
  Fotografias: imagens escritas na alma, tiradas em momentos únicos que desejamos guardá-los!
  Capazes de transformar a nossa existência em recordação do outro, possuem tanto poder sobre nossos sentimentos que, quando são motivos de tristeza apagamos, rasgamos, separamos, buscando retirar ou reter lembranças do que ficou preso naquele segundo do flash.
  Por isso, é comum os álbuns de casamento depois de uma separação, serem desmontados e suas fotografias cortadas ao meio. Constatação dolorida e difícil de ser superada pois, o nosso amor vivo em foto não é mais nosso pior, anda em outras fotos.
  As fotografias estão fundidas em nós, trazem a nossa história pessoal em um segundo de vida, de um olhar, de um sorriso... Fotografia é a presença na ausência como diz Rubens Alves!
  Pra mim, são registros de necessidades humanas que nos diferenciam dos animais: celebração e desejo de ser eterno.
  E, neste delírio fotográfico de viagem, lembrei das fotos digitais!
  Verdade verdadeira: foto digital não é a mesma coisa que foto papel.
  As fotos digitais trouxeram a quantidade, a falsidade do fotoshop e perdemos a poesia dos detalhes, do toque, do manuseio.
  Fotos de papel podem ser perdidas dentro de casa e podem ser encontradas, digitais quando perdidas nunca mais são recuperadas.
  Na caixa, viajei com algumas já senhoras de longa idade com lindas e significativas histórias de celebração: aniversários, encontros, formaturas...
  Parei nas minhas fotos e me espantei: vi mudanças de pessoas que já fui, de olhares que já tive e achei outras que construí.
  Vi de mim fotos em pessoas que partiram, momentos que nunca mais serão repetidos – vivos!
  Assim, quando guardei a caixa para perdê-la novamente, não era a mesma do início da viagem.
  Meu olhar encontrou o cotidiano de facilidade e estou no plantio de idéias:
  Decidi transformar o desejo de lutar contra o superficialismo do computador em semente: vou agora mesmo plantar fotos digitais em uma incubadora chamada pen drive e revelar flores para serem colhidas e serem colocadas, mostradas em vaso papel.

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