domingo, 16 de setembro de 2012

Ivani Izidoro

Saudade!

   Tem tempos no ano que nos obrigam a abrir nosso livro de saudades!
  Agosto é meu tempo obrigatório.
  O estranho do livro da saudade é que suas páginas não são mudadas pelos dedos das mãos. São mudadas pelos nossos olhos, nariz ou boca...
  Outro dia, vi um rapaz ensi-nando seu filho a andar de bicicleta e meus olhos abriram uma página responsável pela escrita de muitas outras histórias:
  - Eu também quero aprender!
  - É do seu irmão e você é muito pequena para esta bicicleta!
  Diante da negativa, longo tempo ficou sentada na beira da calçada, olhando o irmão indo e voltando. 
  Tempo não medido para uma pequena menina que teimava em aprender a andar.
  - Tá, pode aprender!
  Palavras mágicas! Não foram necessárias outras. Sem esperar ajuda, foi logo subindo na bicicleta e de onde apareceu o morro? Foram minutos em cima da bicicleta e outros muitos dolorosos de lesões nos cotovelos, pernas e joelhos. E no olhar e cuidar da menina em lágrimas, aquele homem escutava:
  - Não quero nunca mais subir nesta droga!
 Curativos feitos, mas ainda em lágrimas (odioso merthiolate que ardia ), a sentença firme:
  - Vamos, sobe na bicicleta. E não tem nem meio não! Você não queria aprender de qualquer jeito? Se toda vez que quiser aprender alguma coisa desistir no primeiro tombo, nunca terminará nada. Sobe!
  Na imposição de uma voz que não permitia ser retrucado, a menina subiu, o homem segurou a bicicleta e foi dizendo:
  - Coloque o pé ali, o outro aqui. Isso! Você é pequena, não dá para sentar. Então, precisa ficar em pé. Agora, pedale, estou segurando!
  A cada desequilíbrio a menina olhava e via que estava segura, até que esqueceu e no fazer a volta viu aquele maravilhoso homem em pé, esperando por ela! Andava sozinha! Sensação sem descrição!
  Não foi só andar de bicicleta, aprendi naquele dia que a superação é resultado de querer, confiar, persistir e seguir em frente mesmo diante dos machucados. Lição sentida e aprendida sem discursos e escrita definitiva no meu modo de ver o mundo.
  Meu pai aprendeu a ler adulto, mas era letrado formado da vida! Abandonado pelo pai, aos 8 começou a trabalhar para dar o que comer a sua mãe doente e aos irmãos menores.
  Presença de poucas palavras e de muitos gestos, autoridade sem tapas e gritos; trabalhava muito, não estudou psicologia, não teve exemplos...
  Só decidiu ser O PAI: amou com autoridade e sensibilidade!
  Ainda escuto a música do rádio, sinto-me no seu colo dançando pela sala e o vejo construindo muitos de nossos brinquedos em algumas de suas poucas horas de folga.
  Hoje, ele é saudade.
  Assim, queria que todos os pais se tornassem aos seus filhos na falta física. Porquê a saudade é sentimento que vence o tempo! Livro vivo, prova viva da certeza de que podemos ser presença eterna mesmo na ausência!

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