sábado, 16 de julho de 2011

Crônica - Rita Elisa

   Existe coisa melhor do que ser caipira? Acho que não. Aprendi com Eugênia Sereno que ser caipira é o de melhor em cada um de nós. É no jeito simples de ‘acocorar’ na soleira da porta e comer a mistura de farinha de milho, açúcar e café em uma caneca esmaltada. É o falar arrastado e bem certificado com as redundâncias passíveis que só os caipiras sabem fazê-lo, é um ‘não é isso de jeito nenhum que não’ que é a forma mais simples de enfatizar um ‘Não’. Por isso meu jeito de escrever ficou diferente, acrescento expressões populares, os termos caipiras, as redundâncias e os neologismos inerentes a vida singela de quem mora no campo. Foi essa gente simples que deixou-nos verdadeiras delícias gastronômicas. Fui conversar com dona Natália, que é festeira nata de São Gonçalo, recebe todos anos em sua residência os devotos de São Gonçalo para uma celebração na Capela que, há muitos anos, é patrimônio de família. Foi visitando essa Capela e conversando com dona Natália que fiquei sabendo que a receita de bolinho caipira, tombada no Museu do Folclore de São José dos Campos, é herança da família dela. Conversa vem, conversa vai, colhi um registro importante para o livro que estou desenvolvendo há anos, as origens dos nomes de meus amigos. Lá vem ‘estória’... certo dia, dia especial, vinha o casal de padrinhos trazer para a cidade, especificamente para o bairro Santana, uma recém nascida para ser registrada e batizada. A criança vinha nos braços da madrinha que cuidadosamente transportava a afilhada. Foi quando escutaram o aviso: ‘tem vaca brava solta no pasto’. Os padrinhos, com a criança, se esconderam atrás de uma árvore. De longe ouviram o vaqueiro tentando laçar a vaca selvagem que mugia enquanto se esquivava das laçadas. ‘Volta aqui Catarina, volta já!...’ gritava o vaqueiro na finalidade de domar e, resgatar, a vaca para a manada. Pouco tempo depois conseguiu seu intento. No momento de registrar a criança, não tiveram dúvidas: ‘vamos mudar o nome de nossa afilhada, afinal Catarina é nome de vaca, ainda mais... vaca brava! Vamos colocar outro nome’. Era mês de novembro, logo viria o mês natalino, registraram a linda criança com o nome de Natália. E, assim, além do belo nome, esse registro tem uma ‘estória’. Para os que não sabem como fazer bolinhos caipiras (isso mesmo, sempre no plural... nunca vi ou soube de quem fizesse só um bolinho), vai aqui a receita. Para quem não sabe, o Bolinho Caipira é Patrimônio Cultural e Histórico em várias cidades do Vale do Paraíba. Faço bolinho caipira há 33 anos. Sou apaixonada por esta iguaria do Vale do Paraíba. Já cheguei a fazer milhares de bolinhos em festas juninas, certa vez sobrou um pouquinho de massa. Fiz três bolinhos sem recheio que deixei junto aos outros para serem fritos. Só que na hora da comilança, entre centenas de pessoas, um desses bolinhos saiu exatamente para mim. Agora, se sobra massa... eu jogo fora!

  

Bolinho Caipira

– Ingredientes: para a massa: 1/2 kg de farinha de milho amarela; 2 colheres de sopa de farinha de mandioca; 1 litro e 1/2 de água; 2 cubinhos de caldo de carne e 4 colheres de sopa de óleo. Ingrediente para o recheio: 1/2 kg de carne moída; cebola picada, alho amassado; salsinha e cebolinha picadas e sal.
  

Modo do preparo: em uma vasilha junte as farinhas, vá misturando-as e desmanchando todos os grumos. Adicione o óleo e reserve. Ferva a água com o cubinho de caldo de carne e a derrame sobre a farinha, aos poucos. Misture bem, mexendo sempre até que a massa fique homogênea. Separe uma pequena porção da massa e achate-a na palma da mão. Coloque dentro um pouco do recheio (carne temperada crua) e feche com a própria massa dando o formato de quibe. Feitos todos os bolinhos, frite-os em óleo bem quente. Escorra-os em papel absorvente e sirva-os ainda quentes.

Dica: Utilize a carne bem temperadinha e ‘crua’, pois, se usar carne refogada, o bolinho ficará seco. É o sumo da carne crua que torna o recheio úmido e que dá um sabor diferente à massa.

Rita Elisa
Cronista, Poeta, Biógrafa
Fotógrafa, e Pesquisadora
http://www.palavrasdeseda.blogspot.com/

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