segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Crônica - Rita Elisa Seda

   Hoje, um filósofo me ensinou uma nova maneira de entender o Amor!
   Ele me disse que o amor não preenche. Essa nova perspectiva não me cativou. Daí, ele... o filósofo, me explicou que se o amor preenchesse o vazio que existe em nós, parávamos, ficávamos no lugar, satis-feitos, não haveria procura, nem mesmo evolução.
   Mas, o ser humano é insa-tisfeito por natureza. Se algo fica completo aqui ele abre um buraco ali, à procura de algo.
  Já o amor... o que é então?
  Nessa filosofia de poucos, dos graduados em Ética do Amor, existe uma explicação lógica: o Amor é uma alavanca. É o que impulsiona a continuar, é o que apóia. Com a certeza de que o Amor está à disposição, o ser humano se arrisca a lugares distantes, a sonhos que, antes, impossíveis, com o apoio do Amor – meramente prováveis!
  Quando criança o Amor não tem medidas, na adoles-cência o Amor é necessidade, na fase adulta o Amor é compreensão e na velhice o Amor é paciência, alavancas que impulsionam as fases da vida.
  O Amor respeita a identidade humana, por isso não preenche. É a lógica: o Amor é sempre Amor e o humano é sempre humano. O sentido do Amor é garantir a continuação da vida, impulsionando, animando, sendo apoio.
  O ser humano é pedra, o Amor é o rio que tira as arestas da dor, que torna a pedra lisa e redonda, que move a pedra no leito e a leva para o oceano. Sem precisar, para isso, ser pedra também. Sem a dureza e a rigidez humana, o rio é suave, flexível, canoro... é o puro Amor.
  A pedra no leito do rio é esculpida pelo Amor. A pedra à margem, fora do rio, é pontiaguda e seca. O rio canta melodias de paz enquanto impulsiona a pedra a rolar para lugares mais amplos... a cami-nho de um oceano de possibilidades.
  O humano nasce pedra e morre pedra. Depende do rio para sua lapidação. O Amor que envolve a gema bruta que corre pelo rio em busca de novo horizonte é o mesmo que abraça o cascalho roliço que permanece no fundo do leito do rio.
  Deixar-se levar pelo Amor é tarefa difícil, só a pedra que confia se deixa levar pela correnteza, mesmo que não conheça o destino do rio, mesmo que à frente caia em cachoeira, passe por corredeira, confia seu destino ao Amor, não se importa com o fim, sabe apreciar o caminho.


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