quinta-feira, 10 de junho de 2010

Crônica - Rita Elisa

  Parte da antiga Fazenda da Tecelagem Paraíba, desde 1996, passou a ser denominada Parque da Cidade Roberto Burle Marx tornando-se um amplo espaço de lazer para o município de São José dos Campos. Constituído em uma área total de 516.000 m², esse Parque possui lugares encantadores como o lago, a ilha, as trilhas, o pomar, o anfiteatro, o Museu do Folclore e a Residência Olivo Gomes. Todos inseridos em uma ampla área verde por onde circulam animais típicos da região, como as capivaras, as garças, os esquilos, os sabiás, etc, onde os frequen-tadores podem caminhar, sentar-se nos bancos ou na grama, usufruindo da beleza do lugar. A residência da família Olivo Gomes conta com o lindo projeto arquitetônico de Rino Levi e o capricho paisagístico de Roberto Burle Marx.
  O Parque é Preservado sob Lei Municipal. O artigo 3° da LEI Nº 6493 / 2004 de 05 de janeiro de 2004, dispõe que ‘Os Setores de Preservação são sub-zonas que regulamentam o Uso e Ocupação do Solo em áreas envoltórias de bens de interesse histórico, cultural arquitetônico, paisagístico ou ambiental, visando a sua valorização, proteção e preservação’. O complexo paisagístico precisa de manutenção constante, replantio, poda, adubação, controle de pragas e regas são fatores diários para os que fazem a conservação do Parque.
  Dentre as magníficas espécies arbóreas que compõe a biodiversidade vegetal do Parque da Cidade há algumas que merecem destaque pelo valor do porte físico (material) e pelas ‘estórias’ em suas referências (imaterial).
  Vou contar para vocês a respeito da enorme paineira, Chorizia Speciosa, que imponente vive junto ao galpão Casa do Café, onde atua a Secretaria do Meio Ambiente de São José dos Campos, dentro do Parque da Cidade.
  Antigamente, esse era o lugar onde eram estocados os grãos de café colhidos na Fazenda Santana do Rio Abaixo, complexo incorporado à Tecelagem Paraíba. De certa feita, os capatazes que administravam a colheita na fazenda foram ter uma prosa com o dono da fazenda ‘Sr. Clemente Gomes’, isso por volta dos anos 1970, pedindo a permissão para cortar a tal paineira que sempre tinha um de seus galhos arrebentados e caídos no telhado do Galpão de Café, por ela ficar tão pertinho desse depósito, então fazia enorme avaria, além de que, por diversas vezes havia perda de parte da colheita. Afinal, sempre isso acontecia em época de ventania e chuva, e os grãos de café ficavam alagados. Sr. Clemente escutou todos os motivos para o corte da árvore que não era assim tão grande como nós a conhecemos hoje. Silenciou-se pensativamente. Os capatazes esperando a palavra do chefe, afinal a árvore era uma ameaça ao estoque de café. Sem muita pressa, com a sentença pronta nos lábios o Sr. Clemente Gomes declarou que os capatazes deveriam procurar outro lugar para a estocagem de café porque a paineira não seria cortada, mostrando, assim, uma avançada consciência ambiental para a época.
  Colhi essa ‘estória’ com o biólogo Renato Santos Góes. Diante dessa maravilhosa árvore ele me explicou que uma das características da paineira é que seus galhos ficam ocos rapidamente e se desmoronam inteiros, outra característica é que essa espécie arbórea tem crescimento rápido. Fez uma datação estimada entre 70 a 80 anos de idade para a paineira do Galpão de Café.
  Desta maneira quando você estiver passeando pelo Parque da Cidade, sente-se um pouco sob a copa dessa árvore, olhe para cima e veja a imponência dessa espécie, depois olhe para seu coração e comungue junto com a decisão de Sr. Clemente Gomes: Cortar essa paineira... nunca!

Rita Elisa Seda
Jornalista, cronista, poeta, romancista, biógrafa e fotógrafa.

5 comentários:

  1. Essa ação (in)conscienciosa do Seo Clemente Gomes
    fez-me lembrar Rita, de uma frase que meu avô sempre dizia quando o caseiro reclamava da cheia que cobria o amendoinzal: "Ponha esse aguaceiro na minha conta e nunca mais fale em aterrar o brejo".

    Seu Miguel Nunes assim como Clemente Gomes era um defensor ambiental.
    Obrigada viu?
    beijo'Z

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  2. Sabe Rita, quando criança, no Bilaquinho, escola que estudava no centro de São José, havia uma paineira no meio do patio, enorme, linda e cheia de espinhos, rs. Adorava as flores e depois o algodão, que fazia as sementes voarem pela escola toda fazendo parecer que nevava. Amava tanto aquela árvores que levava dezenas de sementes para minha casa e plantava no jardim. Fazia mudas, que depois minha mãe acabava doando, pois, segundo ela, explicava com toda a calma de mãe para mim. Filhinha, você acaba de plantar dinossauros no jardim, rs. Bjus e adorei a crônica. Recordar é viver!

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  3. Zenilda, você é uma ambientalista de formação, seu Alfazema é prova disso! Beijos

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Daniela, coloque esses flocos de paina em forma de palavras em um poema lúdico. Você é ótima poeta. Beijos

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