quarta-feira, 8 de setembro de 2010

CRÔNICA - RITA ELISA





 

Foto: Renato Santos Góes, biólogo que trabalha no parque da cidade.







Há uma lenda chamada Sapucaia-Roca que é a história de uma pequena povoação à margem de um rio que levava uma vida desordenada e má, se entregavam às danças impudicas e, suas cantigas eram tão pecaminosas, que até mesmo os espíritos protetores, os que velavam essa tribo, chegaram a chorar de tristeza em ver a tribo praticando abominações. O pajé da tribo advertiu que se continuassem agindo daquela forma um grande castigo viria. Mas, os tribais nem ligaram.

Certo dia, a terra tremeu e o rio que banhava a tribo subiu tanto que engoliu a tribo, deixando-a para sempre submersa em água.

Com o passar dos anos, o rio voltou ao seu leito normal, mas a cidade ficou sepultada na profundidade do rio.

Outra tribo se formou à margem do rio. Foi se desenvolvendo alegre, com bons costumes. E, de vez em quando, tarde da noite, acordavam com os cantos de galos, que incessante se erguiam do fundo das águas.

Os pajés, ao serem consultados, perscrutaram os segredos do destino, explicaram que aqueles cantos escutados nas horas mortas da noite, provinham dos espíritos guardiões de uma tribo que outrora viveu ali, à margem do rio, e que, agora jazia no fundo d’água. E que os espíritos protetores da tribo, serviam-se desse canto de galo para recordarem o tremendo castigo pelo qual passaram a antiga tribo, e assim, desviarem a nova geração do perigo de igual fatalidade. Para isso tornaram-se árvores frondosas, margeando todo o rio. As sapucaias. Bem... essa é uma antiga lenda.

Hoje, quem quiser olhar uma dessas árvores, vá ao Parque da Cidade em São José dos Campos, imponente, ela se ergue acima de muitas outras, parece vigiar o lugar para que tudo ocorra para o bem das pessoas que ali passeiam, moram, estudam e trabalham.

Seus frutos são castanhas envolvidas em uma carapaça dura. Ela é um dos motivos de haver tantos esquilos no parque. Alimento anual para eles, que em época frutífera coletam as castanhas, comem algumas e, outras, sabiamente, as enterram. Dessa forma eles têm alimentos o ano inteiro. Algumas castanhas não são reencontradas pelos esquilos e tornam-se benção!... pois brotam, dando lugar à uma nova Sapucaia. Uma antiga forma de reflorestamento.

A cabaça da sapucaia é tão dura que valeu um ditado: ‘arrebenta o coco, mas não quebra a sapucaia’. Isso quer dizer que se uma dessas frutas cair em nós, arrebenta a nossa cabeça... mas, a fruta mesma não se despedaça.

Ao passear pelo parque da cidade, ande devagar, olhe as árvores, cada uma tem história para contar. Ao ver os bichos, capivaras, garças, esquilos, marrecos e muito mais, lembre-se que estão ali porque o lugar lhes proporciona sobrevivência, não precisam de pão velho, pipoca, bolacha ou alguma outra guloseima humana. Eles sabem aonde procurar e achar seus alimentos. Bom passeio!... a gente se encontra lá!





Rita Elisa Seda

Cronista, poeta, biógrafa, fotógrafa e jornalista.




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