segunda-feira, 15 de julho de 2013

Rita Elisa Seda

 
Essa lenda é contada pelo povo Kamaiurá, grupo de etnia indígena brasileira que habita o Parque Indígena do Xingu – MT,  pertencem ao grupo étnico e linguístico tupi-guarani, estando inseridos na zona cultural do Alto Xingu. 
  Diz a lenda que em plena noite de lua minguante um índio que estava no rio pescando, cansado, acabou adormecendo dentro da canoa. Enquanto ele dormia nasceu ao lado da canoa uma plantinha que ao longo da noite foi crescendo até tornar-se uma enorme árvore. Foi quando o índio sonhou que cortava a casca de uma enorme árvore para fazer uma canoa. Ao acordar viu uma enorme árvore encostada à canoa. Cortou a árvore e começou a fazer uma canoa e demorou alguns dias neste trabalho. Sua mulher, grávida, ficou olhando o feitio da canoa e dali alguns dias a mulher entrou em trabalho de parto. A índia deu à luz a um lindo filho. O índio ficou cuidando da mulher e do filho e não pode mais trabalhar. Ficou sem arrastar a canoa para dentro da água. A canoa ficou esquecida, no meio do mato, e junto dela cresceu outra árvore igual a que o homem havia sonhado. Tempos depois o índio voltou aonde tinha deixado a  canoa e não mais a encontrou. Havia somente uma enorme árvore que ele deu o nome de jequitibá, pois significa “gigante da floresta”... era a mesma árvore do sonho. Sem saber o que fazer ele sentou-se ao pé de jequitibá. Precisava pescar, o peixe era alimento importante para sua família. Ficou muito triste. Mas, assim sem ele esperar, no meio da mata apareceu a canoa se arrastando. Muito assustado percebeu que sua canoa tinha se transformado em um bicho e andava pela mata.  Deixou o susto de lado e criou coragem, mesmo que um pouco desconfiado perguntou à canoa se ela o levava para o rio para pescar. Ela ficou parada. Ele arrastou a canoa até o rio e entrou dentro dela. Foi quando os peixes começaram a pular para dentro da canoa. Ela, com fome, comeu todos os peixes. Logo depois um novo cardume de peixes pulou para dentro da canoa, ela não comeu os peixes e o índio pegou todos os peixes para ele.  Satisfeito esse índio pescador amarrou a canoa junto ao Jequitibá e foi para casa levar os peixes para a índia e os filhos.  Não só a mulher e os filhos, mas, também, os amigos ficaram encantados com a quantidade de peixes que o índio pescador trouxera. Queriam saber o segredo daquela maravilhosa pescaria, porém o índio não contou a respeito do bicho/canoa. Algum tempo depois, precisava pescar novamente e foi pegar sua “escondida” canoa e qual foi sua surpresa em ver que ela não estava mais ali. A canoa saiu para conhecer terras distantes. O índio não teve outra escolha a não ser... esperar.  Passaram-se dias e dias, até que em uma noite de lua minguante a canoa voltou. O índio levou a canoa até o rio e quando entrou nela, novamente os peixes pulavam aos pés do índio. O pescador estava um pouco zangado com o sumiço da canoa e, também, apavorado porque sua família precisava de comida. Ao ver os peixes não deixou que a canoa os comesse e começou a pegá-los rapidamente. Foi quando, em um instante, a canoa o engoliu, porque ele foi egoísta e ganancioso. Nesse exato momento uma folha em forma de peixe caiu da árvore perto de onde o índio pescador estava dormindo, ele acordou assustado com o roçar da folha e aliviado por tudo ser um sonho. Olhou para a árvore que crescera ao lado da canoa, a que deixou cair uma folha/peixe e... levou um susto, era a tal árvore jequitibá. Saiu correndo pela mata a fora, pois tinha visto algo se mexendo no meio da floresta e parecia mesmo a tal canoa encantada.  Dizem que até hoje ele corre pelas matas e quando encontra um jequitibá, senta-se no pé da árvore para esperar a canoa encantada aparecer. 

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