quinta-feira, 8 de março de 2012

Rita Elisa Seda



Se eu fosse escrever todas as aventuras que vivi no estado de Goiás daria um livro de 900 páginas ou mais.  Uma delas aconteceu na proximidade de Aruanã, na divisa entre os estados de Goiás e Mato Grosso. Nosso passatempo preferido era pescar. Todo fim de semana Wilson e eu pegávamos nossos apetrechos para pescaria, um bom lanche, água à vontade, uma sacola para trazer nosso jantar!  Dia de pesca não termina na pescaria, termina, sim, com um belo jantar, onde o prato principal é peixe frito. Nesse domingo fomos mais longe, quase na divisa do estado... ‘lugar mágico a gente acha assim na procura,  horas e horas, nunca ter pressa, até encontrar o lugar ideal...’ e o encontramos!... um riacho com águas um pouco turvas por causa das chuvas de janeiro.  Para nosso deleite havia um pequeno puxadinho onde deixamos  nosso lanche e uma parte dos apetrechos para pescar. Descemos o morro e ficamos à margem esquerda do riacho, sentados em uma pedra, arrumamos as varas com molinetes, chumbadas, anzóis e minhocas. Pronto, cada linhada jogada era um peixe que fisgávamos. Era um mandí atrás do outro. O saquinho de plástico ficou cheio. Resolvemos levá-lo lá para cima...  para o puxadinho.Subimos o morro, deixamos o saquinho de mandis pendurados em uma coluna de madeira, bem lá em cima, longe dos cachorros que geralmente rondam esses lugares. Voltamos para a beira do rio com um novo saquinho, vazio. Ficamos até o fim da tarde jogando linhada e pescando... nada! Nada mesmo. Os peixes nem beliscavam, nem ‘mamavam’ a isca, um silêncio total por parte dos peixes e nosso. Depois de mais de três horas tentando em vão, viramos as costas e resolvemos ir embora, afinal tínhamos pelo menos dez mandís que salvaram a pescaria. Direto para o puxadinho. Ao chegarmos lá, nosso assombro foi encontrar o saco todo rasgado sem algum mandí que fosse. Em uma das vigas de madeira, sossegadamente, um papagaio comia um dos últimos mandís. Sim... um papagaio carnívoro... e  ainda havia um enorme mandí jogado no chão, embaixo do papagaio. Corri até minha bolsa,  peguei a máquina fotográfica e cliquei várias vezes esse ‘danado’ devorador de peixes. Ele tinha um jeito todo especial de pegar o peixe e aos poucos ia comendo até não sobrar mais nada. Uma ave de triturar peixe. Pensei em pegar o último peixe no chão, mas foi em vão, demorei demais. Assim que me abaixei senti um deslocamento de ar perto de minha orelha, era o papagaio passando e pegando o mandí no chão.  Ainda tirei uma fotografia do incrível papagaio com o enorme mandí no bico. A ave estava tão repleta, tão gorda de tanto comer, que não saiu do lugar... mas, também, não deixou o mandí cair e não comeu o peixe. Saí dali com um novo alerta em minha mente: ‘em pescaria deixe sempre o fruto da pesca à vista, perto dos olhos. Assim não haverá surpresas’. Não posso dizer que foi uma surpresa desagradável. Fiquei feliz em ver que nossos peixes serviram de alimento para uma ave tão rara. Afinal... não é qualquer papagaio que tem essa destreza – ele é especial.




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