quarta-feira, 1 de junho de 2011

Rita Elisa Seda - Crônica

 









Uma Graça!

  Foi no fim das águas vilaboenses, no fim do mês de março, quando a estiagem começa no sertão goiano. Meu marido ama pescaria e eu não deixo por menos, também gosto! Fomos a um pesqueiro nas imediações da cidade de Goiás, um lugar novo para uma boa pescaria. Local que ainda não conhecíamos.
  Munidos de todos os apetrechos, chegamos, nos instalamos embaixo da única árvore que havia perto do lago artificial. Sou esperta, logo fisgava de três em três lambaris. O silêncio dominava o ambiente, aliás, para uma boa pescaria é necessário o santo silêncio. Pegava tantos peixinhos que meu marido comentou: “Gracinha, você está demais hoje! Olha quantos lambaris já pegou!”. Foi nesse momento que me dei conta que não estávamos a sós. Uma voz por trás da árvore: “Como faz para pegar tantos peixes assim? Eles vêm de três!” Olhei o vulto de uma mulher se aproximando. “Fácil, coloco chuveirinho” (para quem não sabe isso é prender três anzóis numa mesma linhada). A mulher ainda ficou um tempo por lá, respeitando o silêncio, quieta. Só meu marido que de vez em quando repetia: “É gracinha... hoje é seu dia!”
  No término da pescaria, ao serem pesados os peixes, foram mais de três quilos bem pesados (isso só da minha pescaria). A dona do pesqueiro, fez questão de limpar cada lambari para me entregar. Por causa da demora... comentei: “deixa que faço isso lá em casa”. Ela de prontidão: “Imagina só... não é todo dia que aparece uma xará que pega tantos peixes assim. É rapidinho”. Na verdade esse rapidinho foi demorado. Ao me entregar os peixes, devidamente embrulhados, se despediu com um sorriso: “Volte sempre, Gracinha”.
  Eu fiquei sem graça por esta gracinha, já que só meu marido me chama assim quando faço algo fora do comum. Mas, deixei passar. Afinal, precisava preparar os peixes para o almoço. O que foi uma festa. Nada melhor do que lambaris bem fritos para matar a fome.
  Na semana seguinte, recebi uma amiga em casa que foi me levar um aviso. Ficou a tarde toda em uma prosa tipo “chove não molha” até que não aguentando mais me disse: “Olha, Rita, eu vim aqui por uma boa causa. Pois Goiás toda já sabe de uma coisa que só você não sabe... eu como sou sua amiga vim alertar você... seu marido foi visto em um pesqueiro fora da cidade.. o pesqueiro da Graça, ele estava com uma mulher chamada Graça. Pronto... falei!” Saiu sem pedir licença, desapareceu pelo portão, ganhou a rua e foi cantando. Eu fiquei pasma. Eu sendo traída por mim mesma. Que interessante. Era um misto de alegria e tristeza. Alegria por eu ser amante de meu marido e tristeza por não me chamar Graça, nome que tanto gosto.
  Não vou ensinar como se limpa e frita lambari, mas tenho duas dicas maravilhosas para vocês. A primeira é que, para que o lambari fique bem fritinho, sequinho mesmo, devemos passá-lo em uma mistura de farinhas (para cada xícara de trigo uma colher de fubá), isso também ajuda a conservar a fritura quente por mais tempo, a outra dica é polvilhar essa mistura não só por fora, mas também, na parte interna do lambari. Isso faz com que possamos comê-lo com espinho e tudo, pois fica torradinho.
  Bem essa é minha estória gastronômica de hoje, boa pescaria e bom apetite!

Nenhum comentário:

Postar um comentário