domingo, 22 de julho de 2012

Rita Elisa

Parábolas para Yasmin 

 Certo homem plantou milhares de eucaliptos em um seu sítio. Passados alguns meses um eucalipto brotou isolado. O homem cuidou desse eucalipto igual o fez com os outros milhares que foram plantados em fileira.
  Vários anos se passaram e as fileiras de eucaliptos cresceram fortes, troncos eretos, com alguns galhos apenas na copa. Enquanto que o eucalipto que ficou mais afastado, teve mais espaço e criou galhos para todos os lados.
  Yasmin, viver em grupo é bom desde que isso não nos leve a perder nossa identidade. Precisamos de espaço para ser o que nossa genética determina... isso é ter identificação própria. Como esse eucalipto que esticou os braços para todos os lados, enquanto que os outros não tiveram espaço suficiente nem mesmo para serem normais.

  Certa mulher era muito religiosa e sempre participava das atividades na igreja. A que mais chamava sua atenção era a época da Semana Santa, tempo em os santos eram cobertos com panos roxos, em sinal de que toda igreja estava de luto. Todos confeccionados sob medida, feitos de panos caros, eram o sinal da dor dos cristãos.
  Foi ao passar pela estrada, em plena Semana Santa, que viu a cena da verdadeira Paixão. Uma mãe colocando na cruz do estradeiro, lugar onde marca a morte acidental de seu filho, a jaqueta puída, velha e roxa de seu amado filho. Uma lembrança de dor.
Yasmin, a dor tem alma. Tanto a dor dessa mãe quanto a dos fiéis religiosos são iguais.


Certo homem passou o dia pescando no rio que banha o sítio. Ao retornar para a casa trouxe junto uma pedra redonda e achatada que achou à beira d’água. Entregou-a de presente para a mulher dizendo que parecia uma pedra de mó. A mulher analisou a pedra e disse que pedra de mó não era, pois não tinha os lados gastos igualmente e que no centro não havia furo e, sim, um desgaste feito por atrito com outra pedra. Concluiu que era uma pedra utensílio usada, antigamente, pelos índios da região, os Tupinambás.
  A mulher não guardou a pedra junto com sua coleção de fragmentos arqueológicos. Ela colocou a pedra em uso, na cozinha. É nela que prepara os condimentos para temperar a comida.
  Yasmin, reativar algo que há muito tempo está parado é a melhor forma de dar continuidade a uma tradição.

Foto do perfil de Rita Elisa

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